sábado, 15 de outubro de 2016

Era uma vez (1)

(Quer saber o que eu estava ouvindo? clica aqui )

Ela estava perdida.
Havia deixado tudo pra trás. Um oceano a separava de tudo o que já era. Da outra vida, apenas uma mala com um apanhado de roupas que ela decidiu levar sem fazer nenhuma reflexão. Ela teve medo de pensar na mala. "Não preciso disso, mas vou levar, caso eu nunca mais volte." E então, mergulhada na culpa do pensamento, não levou. Deixou tudo o que mais gostava, como uma garantia de que voltaria. Ela queria voltar. Ela queria partir. Ela sabia que não teria tudo. E foi.

Ela estava perdida.
Lembrava da despedida. Queria ficar lá pra sempre. Mas queria que o avião partisse logo e acabasse com o sofrimento. Ela não sabia se era lágrima de adeus ou de volto logo. Ela sentia as duas coisas com tanta verdade, que era difícil só de pensar. Ela não entendia.
Mas então era tudo novo. Bacon and eggs, please. Parecia que estava tão preparada.
A cada dia que passava a outra vida se afastava mais. Ela gostava da outra vida. Ela sonhava com a outra vida. Ela se gabava por ter a outra vida. "Tão perfeitinha, aquela minha outra vida"

Mas é que ... ela estava perdida.
Não é que ela fazia certo ou errado. É que ela nem sabia pra onde estava indo. "Pra quem não sabe pra onde vai, qualquer caminho serve" - foi assim pra Alice em Wonderland. E já que qualquer caminho servia, ela foi escolhida pelo caminho. Ela queria experimentar tudo. Como nos filmes, os vizinhos trouxeram uma torta de maçã. Ela quase não acreditou. Como nos filmes, eles fizeram festas na piscina, bebidas e a polícia apareceu. Como nos filmes, ela bebeu demais. Ela levou o cara que se achava demais pro seu quarto. Ela fez tudo o que ele pediu, e ele dizia como ela era boa.  Mas no fim, mandou ele embora e disse "Como vc é patético". Ela riu dele. Ela usou a desculpa da bebida. Mas gostou de humilhar o cara que se achava demais. Mas é que ... ela não sabia que fazia o mal a si própria.

Ela se sentia perdida.
Ela pensava "Deve ser assim no Mar Morto. Você não bate os braço e não afunda. Você só precisa manter a cabeça pra fora d'água. Respira." Ela estava no Mar Morto. Ela não sentia mais tristeza pelo fim da outra vida. A vida dela agora era aquela. Mas aquela estava vazia. Ela sentia que não havia nada. E resolveu ficar por ali mesmo. Aceitava o que lhe davam. E quando era ruim ela dizia com frieza: "Não me serve. Vai embora". Mas depois aceitava. Ela já não sentia mais. Era o Mar Morto.

Ela entendeu que perdida, era onde ela precisava estar.
Ela deu tudo, até que ficou vazia. Um dia, o cara que a conhecia de uma ooooooutra vida distante olhou pra ela disse: "Tá vazia. Não tem nada aí".Ela pensou que ele iria embora. Mas ele a abraçou em silêncio. Ela em silêncio. Pensou "Ele quer que eu dê alguma coisa pra ele". mas ele não queria. Ele só abraçou seu silêncio. E depois de alguns minutos, se foi. Naquela noite, ela não dormiu. Ela olhou pro teto ( dessa vez sozinha e sem o tédio habitual) e ela parou de dizer "Aquela outra vida, a vida antes dessa, a vida de agora ... " Ela entendeu que só tinha uma vida e muitas possibilidades. E se perdoou por ter agido como se estivesse em festinha de criança."Todas essas coisas diferentes bem aqui ao meu alcance, eu quero tudo, amanhã a festinha vai ter acabado e eu vou desejar ter tido tudo" Ela fez isso ... Ela se lambuzou de exagero, ela bebeu todos os drinks, ela se deliciou com todas as guloseimas, ela tirou a roupa e se jogou na piscina na madrugada.

Ela sabe quem ela é.
Ela foi até o fim. Ela se apaixonou. Ela traiu e foi traída. Ela abandonou e foi abandonada. Ela amou e foi amada. Ela rejeitou e foi rejeitada. Ela bateu e apanhou. E hoje ela gosta do que vê. Ela sabe o que sente. Ela continua sem saber pra onde ir, mas entendeu que o caminho é mais importante que a chegada.

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E para aqueles dias que você não sabe pra onde vai, nem de onde veio... aqueles em que não vai dar tempo pra comer alguma coisa decente, ou que vc só está com preguiça mesmo, eis minha solução. Pode levar no picnic, pra faculdade, pro escritório. Bota na marmita e come frio mesmo. Se joga que é sucesso:

  • Coloque em um bowl 1 xic de arroz integral já cozido e acrescente: abobrinha ralada, cenoura ralada, pimentão em cubinhos, azeitona picada, ou tudo o que sua imaginação mandar (ou que sua geladeira permitir). Gosta de carne? Se tiver um bifinho de ontem dando sopa, pode colocar bem picadinho também. O segredo é colocar tudo picadinho. Queijo, presunto, cogumelo. Vc decide. Tempera com sal, pimenta do reino, ervinhas frescas. Acrescente um ovo levemente batido, mistura tudo muito bem e vai acrescentando farinha de trigo, uma colher de cada vez até sentir que "deu a liga". Coloque colheradas dessa massa pra fritar em uma frigideira antiaderente untada com óleo de côco (ou qualquer um que vc prefira). DOure dos dois lados, sempre em fogo baixo e tampando a frigideira nos intervalos pra garantir que eles fiquem cozidos por dentro. Pode comer quentinho ou frio. No dia seguinte fica ótimo pra comer na correria. Eu gosto de transformar esse bolinho em uma refeição mais completinha, então sempre tento incluir uma fonte de proteína (carne, feijão, farinha de grão de bico) e qtos legumes e verduras forem possível (amo colocar espinafre e couve).   
    Depois de prontos (com marquinhas do grill pq esses ja haviam sido congelados depois de feitos)

    Pra fazer graça, acompanhados de hommus e saladinha. 
                    

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